A escada e a pirâmide de vidro na cobertura, são algumas das principais alterações realizadas para receber o Museu Inimá de Paula
Localizado na região central de Belo Horizonte, o Museu Inimá de Paula está abrigado em edifício tombado pelos órgãos do patrimônio histórico e convertido para o novo uso pelo arquiteto Saul Vilela. A escada que liga os cinco pavimentos do conjunto é considerada pelo autor a mais significativa alteração realizada no histórico prédio.
Em 1998 foi criada uma fundação privada a fim de preservar e estudar a produção do artista Inimá de Paula (1918-1999). Após catalogar mais de 2 mil trabalhos – e editar publicações com boa parte deles -, a instituição abraçou a ideia de implantar em Belo Horizonte um museu para expor obras e vários itens que ilustram a trajetória do pintor, nascido em Itanhomi, interior de Minas Gerais.
Não havia terreno nem imóvel cogitados para receber a instituição quando o arquiteto Saul Vilela desenvolveu um projeto conceitual para ela. Foi essa versão virtual que deu origem ao material promocional distribuído entre candidatos a patrocinadores da iniciativa, ajudando a disseminar a ideia. A proposta obteve apoio da então secretária estadual da Cultura, Eleonora Santa Rosa, e do ex-governador Aécio Neves, que assinaram termo de permissão de uso de um edifício do estado para receber o museu.
Por coincidência, relata Vilela, o espaço mostrava-se adequado ao conceito proposto. Construída na década de 1920, a edificação localizada na rua da Bahia abrigou a sede social do Clube Belo Horizonte e, no térreo, o Cine Guarani. O prédio é de autoria do italiano Rafaello Berti, radicado na capital mineira e responsável pelo desenho de importantes edifícios na cidade, como a prefeitura e o palácio episcopal. No final dos anos 1970, o imóvel foi adquirido pelo governo estadual, que só o ocupou anos mais tarde com uma divisão da Polícia Militar. O edifício foi tombado na década de 1990.
Consumada a cessão, o arquiteto fez uma consulta informal ao órgão de preservação sobre o que poderia ser feito no edifício. A resposta foi lacônica: pintá-lo. Seguro de que o Corpo de Bombeiros não aprovaria o projeto sem alterações internas (as externas estavam proibidas pelo tombo), principalmente para conectar os pavimentos, Vilela convenceu o patrimônio da necessidade de uma escada. Configurou-se, assim, uma circulação vertical alternativa em quatro dos cinco pavimentos do prédio. De caráter escultórico, a peça, inserida num rasgo nas lajes e iluminada naturalmente através de uma pirâmide de vidro, assinala a intervenção contemporânea.
Pela proposta de Vilela, o subsolo, com acesso independente, e uma fração do térreo foram mantidos para uso da PM, que ganhou um miniauditório. O museu propriamente dito foi distribuído por quatro pavimentos – o último é ocupado pelo escritório da Fundação Inimá de Paula. Com as alterações, o térreo, onde estava o antigo cinema (e que mais recentemente era usado pela polícia como estacionamento), foi transformado em auditório de 150 lugares, com foyer e café.
O Salão Inimá de Paula, onde estão expostas dezenas de obras do artista e objetos que ele usou em suas atividades, tem em sua maior parte pé-direito duplo, ocupando o primeiro e o segundo andares. No primeiro encontra-se ainda uma galeria virtual, com quatro projetores que exibem em uma tela obras do artista à escolha do visitante, que pode, assim, pode montar sua própria exposição.
Na extremidade do patamar superior desse salão fica a sala de autorretratos. Nela, o arquiteto aproveitou a curva na junção de duas paredes, na confluência de ruas, para formar um ambiente circular completamente escuro, no qual as obras recebem iluminação que reforça sua dramaticidade. O terceiro andar, reservado para exposições de outros artistas, possui ainda espaço para a montagem temporária de outros ambientes, como cozinha, café e livraria.
Fonte: PROJETODESIGN